pequena reflexão sobre o passado
O passado, embora tenha a sua importância enquanto Self, está circunscrito ao que passou. O que podemos fazer com ele passa por repensá-lo, a outra luz, isto é a outros esquemas, com objectivo de alterar a nossa visão do presente e do futuro. O ontem já é longinquo e as suas repercursões podem ser repensadas, modeladas ao sabor de um estado de valência emocional mais positivo.
É indiscutível que o passado nos forma - somos o que fomos até este momento que fugasmente se torna passado, a memória autobiográfica é um bom exemplo disso. Pensamo-nos e repensamo-nos encaixando-o no hoje. O patológico, parece-me que, frequentemente, se repensa em função do passado, como a ideia comum da depressão “Falhei neste evento e noutro e outro, falho sempre. Sou um falhado sem capacidades”. Isto torna-se perigoso, pensarmo-nos nesta heuristica circular de estados de valência negativos, perdemos o valor da aprendizagem, da plasticidade que detemos. A constante busca do futuro também pode deter algo de patológico, quando se torna uma ansiedade desaptativa.
A comum frase do “nunca digas nunca”, no entanto, faz-me pensar que a relatividade nos sugere a pensar de uma forma menos directiva. Consideraria mais correcto a susbtituição do advérbio por outro, menos restritivo, pois no passado além dos erros, estão as aprendizagens, próprias ou vicariantes, que nos permitem ver o presente e planear o futuro um pouco mais acima, com o saber da experiência passada. A frase de Newton "Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.", embora aplicada ao conhecimento científico, poderá ser repensada em termos mais individualistas e pessoais, em que o gigante seria a nossa vida, as nossas vivências passadas, permitindo-nos uma visão mais informada e sapiente de nós.
Tenho que reconhecer, contudo, que o passado pode ser guia, mas não deve ser grilhões que nos amarrem e nos façam viver a vida em sua função. Até porque o