Pensamento místico e racional na Antropologia
A Antropologia, em seu início, esteve demasiadamente preocupada em estabelecer distinções entre o pensamento que se convencionou ser chamado de primitivo, em oposição ao pensamento ocidental, leia-se europeu. O primeiro, característico dos povos “exóticos” que passavam a ser estudados sistematicamente, seria essencialmente místico, mágico ou sobrenatural; o segundo, racional e científico.
Um dos maiores alvos de críticas posteriores por essa distinção certamente foi o filósofo-antropólogo francês Lucien Lévy-Bruhl; o foco principal de ataques foi seu conceito de pré-logismo. Para este autor, devemos considerar a mentalidade primitiva como mística, intuitiva e pré-lógica, isto é, uma forma de pensamento carregado de afetividade que não estaria condicionado ao princípio da não contradição e até mesmo o suplantaria.
No entanto, ressalta que não devemos entender por pré-lógica uma forma de mentalidade anterior no tempo ao aparecimento do pensamento lógico, nem se caracterizaria como anti-lógica e alógica. Diz ele:
Chamando-a pré-lógica, pretendo e apenas dizer que ela não se limita acima de tudo, como nosso pensamento, a abster-se da contradição. (...) Assim orientada, ela não se compraz gratuitamente no contraditório (o que a torna regularmente absurda para nós), mas ela não pensa sequer em evitá-lo. Com freqüência, lhe é indiferente. (Lévy-Bruhl, 1951. Apud. Cardoso de Oliveira, 1997).
Na mentalidade ocidental, causa e efeito são situados no tempo e no espaço, condicionados por uma infinidade de induções; enquanto que a primitiva não contém senão apenas uma limitada proporção de capacidade de raciocínio indutivo, suas pré-relações (relação dos fenômenos com suas causas) se dariam através da passagem instantânea da percepção sensível às forças místicas invisíveis.
Lévy-Bruhl argumenta que no pensamento primitivo, o mundo visível e o invisível se complementam e formam um todo, a tal ponto que os fatos do