Penas
Vejamos, agora, alguns dos projectistas de uma aliança europeia ou universal, já depois de começarem os processos de ruptura da respublica christiana, quando se contesta tanto o poder temporal do papa como o supremo poder do Imperador.
Já nos primeiros anos do século XIV, um conselheiro de Filipe o Belo, o advogado normando Pierre Dubois (1250-1320), escreve o tratado De recuperatione Terrae Sanctae, aparecido entre 1305 e 1307, onde, instrumentalizando a ideia de cruzada, preconiza a institucionalização de uma assembleia de reinos europeus, em forma de concílio de príncipes e prelados, sem tutela do papa nem do Imperador. Surgia, pela primeira vez, o projecto de uma entidade europeia fora dos quadros da respublica christiana, sem que, contudo, se defendesse qualquer modelo de reconstrução do imperium .
Este conselheiro do rei de França era também adepto do fim do poder temporal dos papas, adoptando a tese de que le roi est empereur en son royaume, conforme fora expressa por Guillaume Nogaret, em 1303. Nesse tratado considera que, para garantir a paz, não basta elogiá-la ou jurar mantê-la. Há que apoiá-la em instituições próprias. Há que organizar a arbitragem internacional .
Refira-se que as ideias de Dubois nenhum efeito tiveram no seu tempo e depressa caíram no esquecimento. Foi apenas Ernest Renan, nos finais do século XIX, que as desenterrou da poeira do passado, quando o novo nacionalismo francês retomava o europeísmo.
Com efeito, nessa obra manifestam-se os interesses do rei de França, a quem convinha a negação do império e da teocracia papal, isto é, de qualquer espécie de poder universal. Aliás, é a partir da aplicação destas teses romanistas aos reinos medievais que, segundo Joseph Höffner, se abriu larga brecha na estrutura do Orbs christianus .
Filipe IV (1268-1314), que reinou em França desde 1285, quando tentou estender o domínio dos reis de França para o nordeste, nomeadamente para a Flandres, numa