Patologias do desvalimento
Autor: Olivan Liger
Colaboração: Clarisa Junqueira Coimbra
Introdução:
Nessa primeira década do século XXI, ao lado de inquestionáveis avanços tecnológicos nas diversas áreas da saúde, a Psicanálise se defronta cada vez mais com um mal-estar cuja incidência nos consultórios aumenta a olhos vistos. Algo novo no seu campo de saber? Não. Porém, o que nos alerta é justamente o número de pacientes com queixa muito similar, e que muitas vezes tem sido diagnosticados com algum equívoco, baseados em critérios duvidosos de co-morbidade, conduzindo a tratamentos inadequados que resultam no abandono do tratamento pelos pacientes que não se sentem atendidos em sua demanda.
Não se trata de uma ocorrência inusitada, pois Freud, em 1926 já citava esse tipo de paciente portador de uma angustia automática e desamparo
(Hilflosigkeit). A contemporaneidade e seus impactos contribuem para o surgimento de um número maior dessas pessoas, as quais pertencem a um grupo psicopatológico que denominamos de portadores de patologia do desvalimento, termo este, traduzido do espanhol (desvalimiento) pela editora
Amorrortu, e que aparece na atualidade, principalmente nos diversos estudos da UCES – Universidad de Ciências Empresariales y Sociales de Buenos
Aires, Argentina.
Os portadores dessa patologia são pacientes que apresentam uma desconexão com a realidade, em diversos níveis. Evidenciam no processo de tratamento psicanalítico um estado mental de desistência e completa desmotivação pela vida, não desejam nada e se acomodam no estado letárgico e monótono de um viver sem aspirações ou expectativas. Um quadro de depressão sem tristeza, neuroses traumáticas e tóxicas, transtornos alimentares ou abuso de substâncias, violência vincular e somatizações diversas. O que o singulariza e diferencia de qualquer outro diagnóstico é exatamente esse traço de um vazio afetivo e emocional como se desabitados de qualquer emoção ou