Autismo
NA PSICANÁLISE, NASCE O SER E A LINGUAGEM
Alicia Beatriz Dorado de Lisondo
Shape nothing lips... be shelled eyes
The habit of Perfection,
G.M. Hopkins (1848-1889)
A) UMA APROXIMAÇÃO TEÓRICA
1) A metapsicologia da simbiose patológica
2) O narcisismo na simbiose patológica
B) O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
C) A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE NA PSICANÁLISE
D) PALAVRAS A CONCLUIR
A) UMA APROXIMAÇÃO TEÓRICA
Freud sempre reconheceu a importância dos fatores constitucionais (1937). O biológico era para o mestre a “rocha de base”. Também, com sabedoria, ele foi otimista para o sucesso da psicanálise quando creditou a origem da perturbação psíquica aos fatores traumáticos. A obra dos mecanismos de defesa produz alterações no eu (1937).
Leo Kanner, em 1943 (Rocha, 1997), utiliza a palavra autismo, criada por
Bleuler (1911), para designar a tendência patológica de certos pacientes que se afastam da realidade e voltam-se para a vida interior, sintoma que descreveu na esquizofrenia. O distúrbio fundamental “patonômico” é a incapacidade das crianças de estabelecerem relações afetivas. As onze crianças por ele estudadas tinham pais que as descreviam como “filhos que se bastavam por si mesmos”, “numa concha”; “mais contentes sozinhos”; “agiam como se os outros não estivessem lá”; “totalmente inconscientes de tudo o que os rodeiam”; “dão a impressão de terem uma sabedoria silenciosa”;
“fracassam para desenvolver uma sociabilidade normal”; ”agem quase sob hipnose”. O autor faz referência ao fechamento autístico extremo. Ele o diferencia das esquizofrenias, porque nestas últimas há uma ruptura de relações previamente estabelecidas, um retraimento.
Kanner faz um estudo descritivo da sintomatologia destes pacientes destacando traços obsessivos, incapacidade para usar a linguagem significativamente - ecolalia, estereotipia, distúrbios no uso dos pronomes -, isolamento, gratificação