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Diálogo Epistolar entre José de Alencar e Machado de Assis
Carta de José de Alencar
Tijuca [Rio de Janeiro], 18 de fevereiro de 1868. Ilmo Sr. Machado de Assis. — Recebi ontem a visita de um poeta. — O Rio de Janeiro não o conhece ainda; muito breve o há de conhecer o Brasil. Bem entendido, falo do Brasil que sente; do coração e não do resto. — O Sr. Castro Alves é hóspede desta grande cidade, alguns dias apenas. Vai a S. Paulo concluir o curso que encetou em Olinda. — Nasceu na Bahia, a pátria de tão belos talentos; a Atenas brasileira que não cansa de produzir estadistas, oradores, poetas e guerreiros. — Podia acrescentar que é filho de um médico ilustre. Mas para quê? A genealogia dos poetas começa com o seu primeiro poema. E que pergaminhos valem estes selados por Deus? — O Sr. Castro Alves trouxe-me uma carta do Dr. Fernandes da Cunha, um dos pontífices da tribuna brasileira. Digo pontífice, porque nos caracteres dessa têmpera o talento é uma religião, a palavra um sacerdócio. — Que júbilo para mim! Receber Cícero que vinha apresentar Horácio, a eloqüência conduzindo pela mão a poesia, uma glória esplêndida mostrando no horizonte da pátria a irradiação de uma límpida aurora! — Mas também quanto, nesse instante, deplorei minha pobreza, que não permitia dar a tão caros hóspedes régio agasalho. Carecia de ser Hugo ou Lamartine, os poetas-oradores, para preparar esse banquete da inteligência. — Se, ao menos, tivesse nesse momento junto de mim a plêiade rica de jovens escritores, à qual pertencem o senhor, o Dr. Pinheiro Guimarães, Bocaiúva, Múzio, Joaquim Serra, Varela, Rozendo Moniz, e tantos outros!... — Entre estes, por que não lembrarei o nome de Leonel de Alencar, a quem o destino fez ave de arribação na terra natal? Em literatura não há suspeições: todos nós, que nascemos em seu regaço, não somos da mesma família? — Mas a todos o vento da contrariedade os tem desfolhado por aí, como flores de uma breve primavera. Um fez da pena