Paradoxo da politica
Angelo Vitório Cenci
(angelo@upf.br)
Doutor em Filosofia e professor da UPF
14 e 15/11/2009 Se é verdade que a vida contemporânea é permeada por paradoxos a política é um dos campos onde esses são mais visíveis. Vamos nos ater aqui àquele que parece ser o mais essencial e denominá-lo simplesmente de paradoxo da política.
Um lado deste é o encolhimento da esfera pública na medida em que as pessoas mais e mais se fecham na vida privada, contentando-se em usufruir das satisfações que esta propicia. A expectativa de muitos a esse respeito se limita a esperar que os governos proporcionem os meios para alcançar tais satisfações. O acesso ao consumo parece não deixar interesse nem tempo para se informar ou se comprometer com qualquer coisa que tenha a ver com decisões políticas: não sei, não quero saber, não me dizem respeito. Mas dizem, e como!
O encolhimento da esfera política transforma as relações sociais e as questões políticas em simples questões de gosto, simpatia ou preferências pessoais, típicos da vida privada. Uma das expressões desse fenômeno é trazer os espaços públicos para dentro de casa: condomínios fechados ao invés de bairros e ruas, Home theater ao invés de cinema, shopping centers ao invés de praças e parques.
O fato é que a redução do espaço público e sua ocupação pela lógica da vida privada alimenta a cultura do individualismo e o enfraquecimento do espírito de justiça, cooperação e solidariedade, essenciais para o funcionamento de uma sociedade saudável e democrática.
O outro lado do paradoxo é caracterizado ao menos por três aspectos. O primeiro está em entender que os assuntos de natureza política possam ser resolvidos tecnicamente, por especialistas. O segundo é reduzir a política ao plano institucional e concebê-la como profissão. O terceiro é compreender a esfera política como algo que deva funcionar com a mesma lógica da vida privada. Leia-se: a