Paradoxos da política sobre drogas
Abril 2012
Reprodução
2
não há polítiCas públiCas para Combater o CraCk
paradoxos da polítiCa sobre drogas
Flávia Cristina Silveira Lemos
O
s recentes e polêmicos debates a respeito da política sobre drogas, no Brasil, têm atualizado estigmas e preconceitos frente a determinadas populações que foram produzidas como lixo desta sociedade, a ser removido por práticas que lembram modos de gestão totalitários. Tais intervenções, em geral, são legitimadas por discursos de lei e ordem e recortam a questão do uso abusivo de drogas por meio da culpabilização dos usuários, em especial no caso das estratégias para lidar com o crack, que ganharam uma visibilidade pelo viés médico e filantrópico, simultaneamente, articulados pela racionalidade securitária. Sob a rubrica de que haveria uma epidemia a ser combatida em nome da segurança e da vida, pessoas são retiradas das ruas sem seu consentimento e enviadas a comunidades terapêuticas que funcionam de maneira similar às instituições asilares, com objetivos diversos que transcendem o cuidado efetivo com grupos sociais classificados como problema social.
Esta rápida naturalização de um lugar social produzido e, portanto, datado historicamente, e sua construção como problema social opera pelo encargo de respostas chamadas de soluções de urgência que, em geral, funcionam de maneira reducionista, racista e visam legitimar um conjunto de violações de direitos e de violências institucionais em nome da proteção e do cuidado, em pleno período de suposta democratização do país. Tal questão pareceu ganhar tamanha visibilidade ao ser noticiada e forjada como problema social grave no país, sobretudo por abordagens de setores da mídia sensacionalista, que funcionam atrelados a interesses econômicos e políticos de especulação imobiliária, de recrudescimento penal, de uma indústria do crime, de posturas racistas e de segregação, de ganhos filantrópicos em um Estado neoliberal, de