Paradigma Do Sujeito E Formas L Ricas
Thiago Castañon Loureiro (UFRJ)
Resumo
O que permite chamar Safo e Píndaro, como Dante e Arnault Daniel, tanto quanto Baudelaire e Mallarmé, igualmente, de poetas? Trata-se do mesmo conceito quando referimos as obras de cada um desses autores, indistintamente, como “poesia”? Os fragmentos mélicos, iambos, epigramas e elegias arcaicos já são poesia, no sentido que chamamos aquelas obras que nossos conceitos histórico-literários classificam como pertencentes a um gênero lírico? E a poesia concreta, ainda é poesia? Como se articulam a poesia pré-dantesca e pós-baudelairiana com a noção clássica e, sobretudo, romântica, de “lírica”? Quais a fronteiras entre poesia, lírica e canção, de um lado, e entre as distintas formas de enunciação do eu, do sujeito, do indivíduo e da pessoa, de outro? Como sujeito e poesia se relacionam com a categoria da mímesis e seu corolário, o estatuto do discurso ficcional? Enfim, qual sua ligação com a função psicológica do imaginário, da imagem, da imaginação? Lançando as bases para uma pesquisa sobre as categorias da poesia, da mímesis e do sujeito, o presente trabalho se situa em algum ponto de cruzamento das perspectivas teóricas de Mauss, Benveniste, Vernant, Foucault, Koselleck, Blumenberg e Luiz Costa Lima, entre a história das categorias sociais e a análise do discurso ficcional. Recortando três momentos-chave, de passagem, na formação destas categorias, procurou-se reconsiderar seus limites históricos com base numa abordagem multidisciplinar, conduzida pelo olhar da crítica literária.
Palavras-chave: Ficção. Lírica. Mímesis. Poesia. Sujeito.
1. Introdução
As manifestações mais antigas do espírito lírico, no sentido específico que nos é familiar, só reluzem esporadicamente, assim como certos fundos da pintura antiga às vezes antecipam, carregados de presságio, a pintura de paisagens. Elas não estabelecem a forma. Aqueles grandes poetas do passado remoto que são classificados pelos