Pagu
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THE GENDER OF THE GIFT*
Adriana Piscitelli.**
The gender of the gift talvez seja um dos textos mais interessantes na produção recente da antropologia inspirada pelo feminismo. O livro, nas palavras da autora um experimento narrativo, é um exercício complexo de interpretação que mostra como uma análise que outorga um lugar central ao gênero tem a capacidade de questionar tanto pressupostos básicos da antropologia como do próprio feminismo.1
Poder-se-ia dizer que o livro trata da dádiva em alguns grupos da Melanésia - tema que encontra-se entre os clássicos da antropologia - pensando-a, numa perspectiva inovadora, como uma ação marcada pelo gênero (gendered). Na maior parte dos escritos antropológicos que trataram do tema, convencionais segundo a autora, o intercâmbio de presentes é considerado como um ato auto-evidente: uma transação onde circulam ítens de tipos diversos - entre os quais há ítens masculinos e femininos
- como bens ou recursos de que dispõem os que estão realizando a transação. Nestas perspectivas, o comportamento é visto como categoricamente neutro e se considera que o poder reside no controle do evento e dos bens, de forma análoga à maneira pela qual os homens controlam as mulheres. A perspectiva
*
Por Marilyn Strathern. Berkeley e Los Angeles: University of California
Press, 1988.
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Doutoranda em Ciências Sociais, Área Família e Gênero. IFCH.
UNICAMP.
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Embora assumo, é claro, minha responsabilidade por este comentário, agradeço às integrantes do Grupo de Estudos do PAGU, idéias que surgiram da discussão deste e de outros textos.
Cadernos Pagu (2) 1994: pp. 211-219.
Adriana Piscitelli
utilizada pela autora para tratar da dádiva permite-lhe afirmar que na cultura Melanésia tal comportamento não é neutro senão que, ao contrário, é marcado pelo gênero. Isto significa que a habilidade que homens e mulheres têm para realizar transações com ítens determinados resulta do