Os primórdios da psicologia
Pode-se dizer que o estudo do comportamento e dos processos mentais a que atualmente chamamos de Psicologia tem seus primórdios na tentativa, durante a Antiguidade, de se determinar a constituição do que seria, digamos, o "sopro da vida", isto é, a alma. O próprio termo, cunhado entre os séculos XV e XVI pelo reformador alemão Philipp Schwarzerdt, mais conhecido em português como Filipe Melâncton (1497-1560), é composto pelas palavras gregas psycho, isto é, alma, e logos, estudo ou teoria.
Ao nos remetermos ao prelúdio das especulações a respeito da constituição da alma, chegaremos ao chamado movimento órfico. Os órficos eram um grupo de gregos que, no século VI a. C., veneravam Orfeu - filho de Apolo - como o semideus das artes poéticas, das ciências e da religião. Acreditavam que a alma poderia existir fora do corpo, podendo até vagar de um corpo a outro, sendo, portanto, imortal. Os sonhos seriam, pois, os eventos em que as almas estariam vagando pelo além. Influenciado por este movimento, o filósofo grego Platão afirmou ser a alma possivelmente semelhante ao ar, insuflando vida ao corpo. A seu ver, existiriam três tipos de alma: uma alma provedora e apetitiva, que residiria no baixo ventre; uma alma resoluta e irascível, que residiria na região do tórax, e uma alma pensante e racional, que residiria na cabeça. Esta última, excepcionalmente, seria a única capaz de vagar e, consequentemente, existir sem o corpo, sendo, portanto, imortal.
Posteriormente, o filósofo grego Aristóteles constrói uma visão um tanto mais monista, ao tratar da relação entre a alma e o corpo, que sem ela não poderia existir. De modo semelhante a Platão, afirma existirem três tipos de alma: uma alma vegetativa, responsável pela nutrição do corpo; uma alma animal, responsável pela sexualidade, e uma alma espiritual, responsável pelas faculdades lógicas. Esta última seria a única capaz de existir sem o corpo e, consequentemente, ser imortal.