os cronistas e o imaginario do sec xv
(BREVE REFLEXÃO SOBRE A CRÓNICA ENQUANTO DISCURSO)*
0. "Os cronistas e o imaginário no século XV" é o tema que me é dado abordar neste congresso dedicado à Geração de Avis na historiografia. Vê-se logo que se trata dum tema susceptível de múltiplas abordagens.
Com efeito, poderia dissertar, com rigorosa pertinência, sobre perspectivas tão distintas como:
a) O imaginário colectivo em geral – imagem de rei, imagem de nobre, imagem de prelado, imagem de burguês, imagem de povo, imagem de mulher, imagem de judeu, etc.
b) Imaginários cristalizados, herança mítica da literatura e da historiografia, cuja formação costuma situar-se no século XV, nas crónicas buscando especial suporte – Ínclita Geração, Infante de Sagres, mar português, fé e império, etc.
c) Imaginário cronístico - crónica e história, crónica e memória (laudatio principum, laudatio morum, laudatio temporum; anulatio mortis, sacratio gestarum, perpetuatio nominum).
Sobre cada uma destas perspectivas de imaginário achamos nos cronistas amplo sustento. Mas é óbvio que não se poderá tratar de tudo isto no breve espaço duma comunicação. Pelo que vou ser moderado no meu propósito, sem dúvida genérico no meu discurso.
Cingindo-me estritamente às palavras do tema, tentarei responder a três questões e aflorar uma conclusão. Assim:
1. Que cronistas?
2. Que imaginário?
3. Que valor histórico?
Conclusão: o peso do imaginário.
Entenda-se o que vou dizer como apontamento sumário duma reflexão crítica aturada – a qual tenho em certa medida partilhado com os alunos do Mestrado de História Medieval da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, na disciplina "Crítica Textual".
1. Cronistas e imaginário: que cronistas?
Os do século XV, tenham escrito ou não sobre o século XV. Designadamente:
Fernão Lopes (± 1385 a ± 1460). Deste cronista chegaram até nós, como é sabido, três obras: a Crónica de D. Pedro I, a Crónica de D. Fernando e a Crónica de D. João I