Onde estão os negros
Racismo
Acho que todos já ouviram falar de uma pesquisa que verificou: a maioria dos brasileiros (a) acha que existe preconceito racial e (b) não se considera racista. Conclui-se daí que muitos consideram que o racismo existe apenas no outro e que deveríamos todos nos considerar racistas. Conclusão perigosa.
A asserção “Sou racista” dificulta o justo conhecimento de causa. Ora, se sou racista, devo tentar superar esse “meu racismo”. É essa forma de pensar que possibilita esta outra: “Não sou mais racista, tenho até amigos negros”. É evidente a necessidade do exercício individual de perceber o racismo em você, assim como é importante perceber seus deslizes machistas e homofóbicos. Mas a reflexão deve ser feita nesses novos termos: não mais “sou racista”, mas “o racismo em mim”. Afinal, a superação do racismo (bem como do machismo e da homofobia) não se dá por prática individual de conscientização, mas por ação coletiva e, portanto, política.
Essa mudança nos termos da linguagem significa a necessidade de mudar a própria forma como pensamos a questão. A presença do racismo em cada um de nós significa presença na cultura, que é construída pela história, isto é, pelas relações sociais de trabalho e de afeto, pelos valores morais, pelos bens materiais e pelo acesso a eles, pelos espaços públicos e privados e o pelas diferentes oportunidades de estar neles (elementos que interferem um no outro e que se organizam numa hierarquia). Logo, o racismo não é apenas a discriminação individual consciente e a violência explícita, mas toda a forma como se dão absolutamente todas as relações entre negros e brancos (assim como entre índios e não-índios, mulheres e homens, mas vou agora restringir a exposição). Se o racismo está nas relações sociais, são elas que precisam ser mudadas, o que não se dá apenas pela boa vontade de um indivíduo.
Para ilustrar a perversidade do racismo no sentido aqui defendido, cito o texto (1) do professor Sílvio