olhem u;u
DISCIPLINA: Prática de Ensino: Introdução à Docência
Aluno: José dos Reis Silva Júnior
RA: 1424021
Escutatória
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de “escutatória”. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.
Parafraseio Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma". Não aguentamos ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor: "Se eu fosse você..." Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Certo estava Lichtenberg - citado por Murilo Mendes: "Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas".
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos. Foi trabalhar num programa social com os índios. Contou-me sua experiência. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. Todos à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou." E assim vai à reunião.
Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos, passei uma semana num mosteiro na Suíça. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da