Obras Cenicas
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Professor de Teatro no Curso de Formação de Atores da
Fundação Clóvis Salgado, Belo
Horizonte, MG. Formado em
Filosofia pela UFMG e Mestre em Artes pela Escola de Belas
Artes-UFMG.
Materialidade cênica como linguagem
Luiz Carlos Garrocho*
A colocação da questão: materialidade e encenação contemporânea No prólogo de seu livro em que analisa o teatro pós-dramático,
Hans-Thies Lehmann (2007) refere-se às diferenças entre as práticas culturais tecnológicas e midiáticas, que se tornam cada vez mais
“imateriais”, e o teatro, definido por uma “materialidade da comunicação”. O autor inclui nessa última todos os recursos, pessoas e equipamentos necessários à execução do espetáculo ao vivo e presencial.
Nessa direção, o teatro subsiste numa situação mais frágil por não circular e ser passível de comercialização no mesmo patamar de seus concorrentes. Pode-se perguntar, a partir desse quadro, o que caberia ao teatro no mundo contemporâneo?
Para que a questão seja devidamente colocada, é necessário entender que não é o fator de tecnologia agregada (vídeo, telepresença etc.) que poderia tornar as artes da encenação contemporâneas às outras realidades da cultura. De um jeito ou de outro, o teatro permanece sendo uma arte em que público e criadores compartilham a experiência presencial. E é somente desse patamar de coisas que podemos apreender algo sobre o sentido do teatro hoje.
É justamente desse deslocamento em relação às outras práticas culturais, como se algo lhe faltasse, que Lehmann apresenta a força do teatro contemporâneo: a encenação surgida a partir dos anos 70 do século XX aprofundaria e radicalizaria essa dimensão material, fazendo-a
“conteúdo e tema da representação”.Tal seria justamente o que vai definir em primeira mão o teatro pós-dramático, sendo precisamente o horizonte que nos permite falar de um pathos de criação cujas premissas e problemas podem ser compreendidos em termos de uma materialidade