Nelson Rodrigues
A mulher sem pecado
DRAMA EM TRÊS ATOS
Edição Guinefort
PERSONAGENS
Olegário (paralítico e marido de Lídia)
Inézia (criada)
D. Aninha (doida pacífica, mãe de Olegário)
Umberto (chofer)
Voz Interior (Olegário)
Lídia (esposa de Olegário)
Joel (empregado de Olegário)
Maurício (irmão de criação de Lídia)
D. Márcia (ex-lavadeira e mãe de Lídia)
Menina1 (Lídia aos dez anos)
Mulher2 (primeira esposa de Olegário, já falecida)
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O autor, em 45, excluiu a menina quando da representação dirigida por Turkow. Conforme a conveniência, a menina poderá ser suprimida, já que o autor assim o fez na segunda versão, levada em cena em 1945.
2
Como a menina, poderá ser suprimida, já que o autor assim o fez na segunda versão.
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PRIMEIRO ATO
(Cenário com um fundo de cortinas cinzentas. Uma escada.
Mobiliário escasso e sóbrio. O Dr. Olegário - um paralítico recente e grisalho - está na sua cadeira de rodas. Impulsiona a cadeira de um extremo a outro do palco, e vice-versa. Excitação contínua.
Num canto da cena, D. Aninha, de preto, sentada numa poltrona, está perpetuamente enrolando um paninho. D. Aninha, mãe do
Dr. Olegário, é uma doida pacífica. Luz em penumbra. Sentada num degrau da escada, está uma menina de dez anos, com um vestido curto, bem acima do joelho, e sempre com as mãos cruzadas sobre o sexo. Luz vertical sobre a criança. Esta é uma figura que só existe na imaginação doentia do paralítico. No decorrer dos três atos, ela aparece nos grandes momentos de crise.) (A menina atravessa o palco e sai de cena.)
Olegário - Inézia! Inézia!
Inézia (a criada, entrando) - Pronto, doutor.
Olegário (parando a cadeira no meio do palco) - Então? O que há? Inézia - Nada, doutor, nada de novo. Quer dizer...
Olegário (impaciente) - Quer dizer o quê? Alguém telefonou para minha mulher?
Inézia - Telefonaram, doutor. A manicura, perguntando se podia vir hoje. D. Lídia disse que hoje não. Marcou para amanhã.
Olegário