Nelson Rodrigues
A comparação entre as obras literárias ainda não foi discutida consistentemente no meio acadêmico, ou seja, não existe nenhuma dissertação ou tese que trate especificamente sobre a relação entre Casa Grande e Senzala e Álbum de família. Desta maneira, torna-se relevante a proposta do estudo comparativo das duas obras. Principalmente, porque são muitas as coincidências entre as obras, a começar pela temática familiar.
Ao escolher os dois autores como foco da presente monografia, eu teria a oportunidade, portanto, de trabalhar com autores que realmente aprecio e deste modo aprofundar a relação coexistente nas duas obras citadas inicialmente.
Um motivo adicional é a crença de que tais obras detêm uma grande importância no panorama da literatura brasileira contemporânea. Ao ser lançada, a peça Álbum de família, escrita em 1945, representou aos olhos dos críticos e dos censores o extremo da ousadia e um desafio para os padrões estéticos e morais vigentes.
Este trabalho procura investigar as relações e apropriações construídas entre a obra de Gilberto Freyre e a dramaturgia de Nelson Rodrigues, tendo em vista elementos comuns às duas obras e entendimentos próximos no que diz respeito ao processo de formação da família e da civilização brasileira. Em ambas as obras, pode-se perceber a análise de excessos de violência física, sexualidade e sensualidade (marcas da hybris), assim como a análise da entrada de padrões de civilização importados que também se impõe pela marca da violência da repressão. Entre estes dois campos, constroem-se tensões muito produtivas para se pensar a formação da identidade brasileira, os padrões de civilização importados, a própria noção de civilização e as questões do discurso teatral na segunda metade do século XX.
Nelson Rodrigues era um “talento em captar emoções embaixo da cintura” (Francis In: Rodrigues, 1981: 414). De fato, especialmente em seus textos teatrais, o tema da sexualidade tem grande importância.