Negros e negrices
Porque destituíram os negros de sua própria identidade, torturaram o seu corpo e aniquilaram o patrimônio de sua cultura sagrada nos templos da Bahia, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro. Esse enorme acervo religioso foi parar nos museus de polícia, onde deveriam ser objeto de estudos para provar, à luz da antropologia, a nossa inferioridade, medindo-se tamanhos de crânios e tipos faciais para comparar diferentes etnias entre si...
O que queremos, ao resgatar negras memórias de nossa história e essas outras tantas memórias de negros que esta exposição nos traz? Queremos resgatar entre os negros uma certa auto-estima e uma imagem que nos sirva de padrão de orgulho por nossos heróis, que pretendemos nos sejam devolvidos em carne e osso, em sangue e espírito, como pessoas reais que puderam até alçar-se à condição de mito, mas não mais como lendas perdidas numa nebulosa história. Precisamos ter orgulho dos feitos de nossos homens e mulheres que, a despeito do estigma herdado da escravidão, marcaram seu lugar na nossa história, como cientistas, engenheiros, poetas, escritores, doutores, escultores, pintores, historiadores. Queremos que os nossos sejam reconhecidos. Homens como o historiador, lingüista, engenheiro e administrador Teodoro Sampaio, os poetas Luís Gama e Cruz e Souza, o primeiro editor brasileiro e também poeta, Paula Brito, o escultor Mestre Valentim, o imenso Francisco Antônio Lisboa, os médicos Luís Anselmo e Juliano Moreira, os pintores Teófilo de Jesus, Estevão Silva, Firmino Monteiro, Rafael Pinto Bandeira, os irmãos João e Artur Timóteo da Costa, Emanuel Zammor. Queremos o reconhecimento como negro para Manuel da Cunha, o pintor escravo que comprou sua alforria da família do cônego Barbosa da Cunha e foi para Portugal aprender o ofício de pintor, deixando-nos uma obra admirável como a que ainda se pode ver na