nao sei ser triste a valer analise

589 palavras 3 páginas
Análise do Poema
"Não Sei Ser Triste a valer"
Não sei ser triste a valer
Nem ser alegre deveras.
Acreditem: não sei ser.
Serão as almas sinceras
Assim também, sem saber?

Ah, ante a ficção da alma
E a mentira da emoção,
Com que prazer me dá calma
Ver uma flor sem razão
Florir sem ter coração!

Mas enfim não há diferença.
Se a flor flore sem querer,
Sem querer a gente pensa.
O que nela é florescer
Em nós é ter consciência.

Depois, a nós como a ela,
Quando o Fado a faz passar,
Surgem as patas dos deuses
E ambos nos vêm calcar.

'Stá bem, enquanto não vêm
Vamos florir ou pensar.

O poema que se inicia com "Não sei ser triste a valer..." é um poema ortónimo de Fernando Pessoa que toca um tema querido à vertente ortónima da sua poesia - a oposição entre pensar e sentir, ou mais exactamente entre pensar e viver.
A temática é desenvolvida pela análise dialéctica e comparativa, entre o acto de pensar (humano) e o acto de florir (natural). Pessoa tenta, na comparação, estabelecer uma linha condutora entre o absurdo de pensar perante o absurdo de florir - ambas as acções serão afinal naturais e semelhantes? Dizendo isto, Pessoa tira o conteúdo revolucionário do pensar e assemelha-o ao acto simples do florir. Assim pensar, como florir, não tem um significa intrínseco, uma finalidade lógica superior. Pensar é, como florir, uma acção sem significado além do significado que encerra em si mesma - esgota-se portanto no seu próprio acto, não tem um seguimento e uma conclusão e ai resido o seu absurdo.
A mudança entre os tons interrogativo (1ª estrofe) e exclamativo (2ª estrofe), que passa depois para um tom declarativo é de simples análise. É claro que Pessoa tenta nas duas primeiras estrofes estabelecer a sua comparação - a linha condutora, pelas evidências e semelhantes entre pensar e florir. Por isso ele primeiro interroga e depois afirma para si mesmo a realidade. As restantes estrofes são já produto de uma conclusão do poeta - são, à sua

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