nada

526 palavras 3 páginas
"Não sei ser triste a valer" - O sujeito poético refere, através da analogia entre o florir das flores e a inevitabilidade do pensar, a sua dor e angústia. Atente-se em aspectos como: a indefinição - "Não sei ser triste a valer / Nem ser alegre deveras"; a constatação de que não sabe ser - "Acreditem: não sei ser."; o prazer de "não sentir" - "Com que prazer me dá calma / (...) Florir sem ter coração!"; a identificação entre "florir" e "pensar", porque ambos são superiores à "vontade" das flores e dos homens - "O que nela é florescer / Em nós é ter consciência. / (...) Vamos florir ou pensar."; a inevitabilidade da morte - "Surgem as patas dos deuses / E a ambos nos vêm calcar".
O poema que se inicia com "Não sei ser triste a valer..." é um poema ortónimo de Fernando Pessoa que toca um tema querido à vertente Ortónima da sua poesia - a oposição entre pensar e sentir, ou mais exactamente entre pensar e viver. A temática é desenvolvida pela análise dialéctica e comparativa, entre o acto de pensar (humano) e o acto de florir (natural). Pessoa tenta, na comparação, estabelecer uma linha condutora entre o absurdo de pensar perante o absurdo de florir - ambas as acções serão afinal naturais e semelhantes? Dizendo isto, Pessoa tira o conteúdo revolucionário do pensar e assemelha-o ao acto simples do florir. Assim pensar, como florir, não tem um significa intrínseco, uma finalidade lógica superior. Pensar é, como florir, uma acção sem significado além do significado que encerra em si mesma - esgota-se portanto no seu próprio acto, não tem um seguimento e uma conclusão e ai resido o seu absurdo. A mudança entre o tom interrogativo (1ª estrofe) e exclamativo (2ª estrofe), que passa depois para um tom declarativo é de simples análise. É claro que Pessoa tenta nas duas primeiras estrofes estabelecer a sua comparação - a linha condutora, pelas evidências e semelhantes entre pensar e florir. Por isso ele primeiro interroga e depois afirma para si mesmo a

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