Analise do poema '' Não sei ser triste a valer ''
Nem ser alegre deveras.
Acreditem: não sei ser.
Serão as almas sinceras
Assim também, sem saber?
Ah, ante a ficção da alma
E a mentira da emoção,
Com que prazer me dá calma
Ver uma flor sem razão
Florir sem ter coração!
Mas enfim não há diferença.
Se a flor flore sem querer,
Sem querer a gente pensa.
O que nela é florescer
Em nós é ter consciência.
Depois, a nós como a ela,
Quando o Fado a faz passar,
Surgem as patas dos deuses
E ambos nos vêm calcar.
'Stá bem, enquanto não vêm
Vamos florir ou pensar.
- Este poema foi escrito para caracterizar o homem, que sente e pensa.
Nele a razão e a emoção são mentira porque não se conjugam. Por seu lado, a flor, nem sente nem pensa e, no entanto, desabrocha sem precisar de razão e de coração. Para a flor, florescer é um acto involuntário, tal como é um acto involuntário para o homem pensar.
O sujeito poético procura realçar um apelo irónico ao “carpe diem” que procura sugerir que, enquanto a morte não chega, devemos aproveitar cada momento da vida, seja florindo inconscientemente como uma flor, seja pensando, como é inevitável no homem.
Algumas figuras de estilo presentes neste poema:
Os primeiros dois versos da primeira estrofe: antítese (entre a tristeza e a alegria)
Últimos dois versos da primeira estrofe: elipse (não é dito o que as almas sinceram possam ser, mas subentende-se)
Terceiro verso da segunda estrofe: inversão (na ordem das palavras)
Últimos dois versos da segunda estrofe: personificação (a flor sem razão e coração)
Verso 2 da terceira estrofe: aliteração (flor flore)
Versos 2 e 3 da terceira estrofe: anadiplose (repetição de "sem querer")
Últimos 2 versos da terceira esteofe: comparação
Últimos 2 versos da quarta estrofe: eufemismo (nos vêm calcar - matar)