musica e literatura
INTRODUÇÃO
As relações entre a música e a literatura são tão antigas quanto essas duas formas de expressão artística. Desde a Antiguidade o texto literário adapta-se à música, bem como a música adapta-se ao texto literário, mais precisamente, ao poema. Se pensarmos, por exemplo, no Cântico dos Cânticos ou nos Salmos, percebemos com nitidez que foram textos escritos com a finalidade de serem recitados ou cantados ao som de instrumentos musicais; nos Salmos, em especial, encontramos inúmeras indicações destinadas aos músicos, tais como no Salmo 4, onde consta: "Ao mestre de canto. Com instrumentos de cordas". Outras vezes consta "Com flautas" e, em certa ocasiões, indicações bem precisas de técnica, como: "Uma oitava abaixo". São célebres as ilustrações que mostram Davi empunhando uma harpa. De resto, na Antiguidade grega e romana era quase inadmissível que um poema fosse dito sem que se fizesse acompanhar de música: para tanto, o poema materializava-se em frases de cadência favorável ao canto, e mediante regras mais ou menos uniformes. Não esqueçamos também a imagem do imperador Nero, empunhando uma harpa enquanto incendiava Roma: não apenas uma melodia, mas uma elegia literária à cidade que perecia nas cinzas. Procurava-se, como se percebe, captar o ouvinte pela palavra e pela música ao mesmo tempo. Da Idade Média, passou ao nosso imaginário cultural a figura do trovador, simultaneamente poeta e músico, perambulando pelas aldeias com seu alaúde e seus poemas de caráter ora jocoso, ora erótico, ora satírico, ora de caráter sagrado, estes últimos celebrando cenas da vida dos santos ou na lembrança dos Sacramentos da Igreja. Rarissimamente a música era meramente instrumental: exceto no caso das danças, a melodia conjugava-se à palavra. Poucos foram os nomes desses poetas-músicos que chegaram até nós, mas quando chegam, chegam com a importância de um mestre como Roger von der Vogelweide.