Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos
Museus Afro-Brasileiros: Espaços de resistência cultural no contexto de reurbanização das cidades.
Padre Mauro Luiz da Silva
Diretor e Curador do MUQUIFU
Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos
“Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado, pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos, dando porrada na nuca de malandros pretos, de ladrões mulatos e outros quase brancos, tratados como pretos só pra mostrar aos outros quase pretos e aos quase brancos pobres como pretos, como é que pretos, pobres e mulatos e quase brancos, quase pretos de tão pobres são tratados... 1
Imagem: Aglomerado Santa Lúcia, Belo Horizonte / MG - Foto de Mauro Luiz da Silva
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O Haiti não é aqui, CD Tropicália 2, 1993. Texto de Caetano Veloso e musica de Gilberto Gil.
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Diante da proposta da Fundação Palmares e objetivando tratar o tema da Memória Negra e Museus, sinto a necessidade de iniciar minha reflexão neste breve artigo trantando questões fundamentais no que se refere ao universo museológico e à necessidade humana de preservação de sua memória, caracterizada aqui no desejo de se colecionar objetos e histórias. Seria ingênuo da minha parte não reconhecer que a proposta de preservação da Memória Negra, assim como de outras memórias, também nasce do desejo de poder. Quem define se algo ou alguma memória é digna ou não de preservação manifesta seu poder ou acena para o desejo de auto preservação da própria espécie, cultura, modo de vida etc. Chegar à consciência da necessidade de preservação da própria memória é algo louvavel e que, no meu entender, demonstra a superação de processos epistemológicos muito superiores e consolidados. Afinal, quem define o que deve ou não fazer parte do acervo de um determinado museu? Quais são os limites e possibilidades desta futura instituição museológica nacional, que pode surgir por iniciativa da Fundação Palmares? Quem são os personagens e instituições que