Medicina estudante
Como pôde-se verificar, o surgimento e a divulgação de diretrizes éticas relacionadas às pesquisas biomédicas não foram, até o momento, instrumentos totalmente eficazes no sentido de garantir a segurança, integridade e respeito aos quais as pessoas que participam de pesquisas têm como direito. É interessante notar, também, que apesar desses documentos terem surgido a partir de uma ampla mobilização da sociedade, essa mesma sociedade tem se esquivado de promover uma discussão ampliada que permita abolir o viés cientificista e autoritário amplamente difundido e que obedece à lógica do mercado. Há, portanto, um longo caminho a percorrer. É somente através de um controle social efetivo que se tornará possível coibir práticas que recoloquem os sujeitos de pesquisa em situação de vulnerabilidade. O grande desafio colocado consiste exatamente em garantir a eticidade dos procedimentos realizados, consolidando as conquistas historicamente construídas.
O pensamento de que a desigualdade faz parte da natureza das pessoas e não das sociedades em que elas vivem, permite introjetar a concepção, amplamente difundida, de que é perfeitamente aceitável um escalonamento do poder social entre ricos e pobres, cientistas e leigos, tecnocratas e excluídos, desenvolvidos e subdesenvolvidos.
Ou seja, uma ideologia que transforma acriticamente as pessoas, grupos sociais e países em privilegiados e vulneráveis indistintamente. Este pensamento contribuiu, também, para a adoção de critérios protecionistas – que colocam as populações de todos os países em desenvolvimento sem distinção como pessoas vulneráveis – que colaboram, no campo da pesquisa científica, para um esvaziamento social e político do conceito de vulnerabilidade (21).
Para exemplificar essa situação, tomamos como exemplo o caso das mulheres africanas que “participaram” da pesquisa sobre prevenção da transmissão vertical na qual foi utilizado placebo em um dos