Mauser

MAUSER

O próprio Heiner Müller se colocou, certa vez, como aquele que "continuou do ponto em que Brecht parou".

Müller escreveu seu texto em 1970, refletindo os anos de chumbo que pesavam sobre a sociedade alemã. Ele utiliza a forma da “peça-didática”, fórmula consagrada por Bertolt Brecht quarenta anos antes.

Qual o preço da revolução? A pergunta resume a idéia central do mauser. Mauser, escrito pelo dramaturgo "leste" alemão Heiner Müller em 1970, o debate acontece num terreno que permite desenvolvimentos não usuais. A arte é um terreno que aceita sutilezas interpretativas, permitidas aos artistas e, ao mesmo tempo, à audiência.

O próprio Heiner Müller se colocou, certa vez, como aquele que "continuou do ponto em que Brecht parou". E a frase serve como uma luva para a experiência que originou o Mauser. Müller escreveu sua peça-didática à luz das experiências traumáticas do "socialismo" alemão em plena época de Brejnev. Seu lehrstück, entretanto, não apenas atualiza o debate do brechtismo do final dos anos 20, época em que Brecht escreveu A decisão, fonte de inspiração do Mauser, mas atualiza a própria idéia de peça-didática. Heiner Müler é certamente mais referencial, menos linear e mais experimental do que Brecht. Um pré-pós-moderno do início da década de setenta. E é também mais desesperançado, ou cínico, como exigem alguns críticos. Enfim, ele talvez seja menos revolucionário (se o ponto de vista for o estritamente político), mas um dos seus méritos é deixar mais complexas as possibilidades de discussão oferecidas por esse formato. Seu debate sobre o "preço da revolução" põe em questão o papel da violência revolucionária, sobretudo quando essa violência está fora de controle, ou quando está submetida ao controle de um partido que, ele mesmo, funciona apenas auto-controladamente. Em outras palavras, quando é que a revolução começa a se alimentar dela mesma, esquecendo o horizonte que lhe forneceu seu sentido original, sua razão de ser?