Mario Perini
Essa flexibilidade, que todos conhecemos, segue estritamente a =necessidade de comunicação: no momento em que isso é =necessário, um "substantivo" vira "adjetivo", ou vice-versa. O que =aconteceu com cabeça também aconteceu com gato (ela tem um
irmão gato) e ultimamente com prego (mas que sujeito prego.) . O =processo oposto se deu com maternal, que há alguns anos só podia =expressar qualidade, tal como paternal, e agora é também o nome de =uma coisa.
Como se vê, o que temos em mãos não são duas classes de palavras nitidamente diferentes, mas uma classe que =possui potencialidades expressivas variadas; entre outras coisas, pode =expressar nomes de coisas ou qualidades. E expressa uma ou outra dessas =coisas no momento em que é necessário. Acontece que, até hoje, ninguém teve a idéia de usar =xícara para exprimir uma qualidade; e é por isso, somente, que =xícara continua sendo apenas nome de uma coisa. Também não =ocorreu a ninguém utilizar paternal para designar uma coisa (um novo tipo de escola?); e =é por isso que paternal ainda é tão nitidamente qualificativo. =A distinção entre a classe dos "adjetivos" e a dos "substantivos" =simplesmente não existe.
Sinto-me obrigado a dizer que a conclusão acima não é =aceita pela maioria dos lingüistas. Muitos dos meus colegas rangem os =dentes de raiva quando ouvem uma heresia como essa. No entanto, até =hoje ninguém respondeu aos argumentos apresentados de maneira a me satisfazer. Por =isso, continuo desacreditando de adjetivos e de substantivos, e continuo =fazendo gramática. Talvez eu tenha muito a pagar na outra vida.
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6. SOFRENDO A GRAMÁTICA.
(a matéria que ninguém aprende).
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Passei grande parte da vida estudando, discutindo e escrevendo a =respeito de gramática, e me preocupo bastante com a atitude que as =pessoas têm para com essa disciplina. Muitas vezes, percebi um certo =espanto diante da informação de que o estudo da gramática é a minha