Gravata de quem?
Resenha do texto de Mário A. Perini: “As gravatas de Mário Quintana”
(não basta saber uma língua para entendê-la)
O texto “As gravatas de Mário Quintana” foi publicado no livro “Sofrendo a Gramática”, volume composto por vários ensaios de Perini. Os estudos que constituem esse volume fazem questionamentos sobre conceitos cristalizados da gramática tradicional, deixando claro à fragilidade dessa disciplina e sugerindo uma postura mais reflexiva para lidar com a gramática do Português. O texto discorre sobre a importância dos aspectos extralinguísticos e contextuais de que dispõem a língua para se fazer compreender. Em “As gravatas de Mário Quintana”, o autor demonstra com clareza que o significado de uma frase não é simples função de seus elementos constitutivos, mas depende ainda de informação extralingüística. Sobre coesão e coerência FAVERO (2002, PP.59), informa que a aquisição de conhecimentos opera-se nos níveis da razão e da experiência, de que dispões o falante. Perini trabalha a hipótese de que não se pode compreender um texto, uma frase, um enunciado sem ter em mente o meio o ambiente dos interlocutores, sua bagagem ou conhecimento de mundo, o autor apresenta como exemplos vários sintagmas, com a mesma estrutura, em que aparece a preposição de. Ou seja, por meio de alguns exemplos como As gravatas de Mário Quintana, As gravatas de Pierre Cardin e Os poemas de Mário Quintana, o autor evidencia que, para identificar a relação de sentido expressa pela preposição de nesses três enunciados, não basta apoiar-se na estrutura morfossintática: são necessárias informações gerais sobre o mundo. Segundo o autor, é nosso conhecimento de mundo que resolve a questão, é o que sabemos sobre Mário Quintana e Pierre Cardin e sobre os objetos (gravatas e poemas) que nos permite identificar se a relação de sentido expressa pela preposição de é de posse ou autoria.