maquiavel
Velhice e o curso da vida pós-moderno A
expressão “curso da vida pós-moderno” foi cunhada por Harry R. Moody para dar conta das mudanças que, a partir dos anos 70, deram novas configurações às etapas em que a vida se desdo-
bra, embaçando as fronteiras estabelecidas entre os comportamentos tidos até então como adequados aos diferentes grupos etários.
PÓS
GUITA GRIN DEBERT é professora do
Departamento de
Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da Unicamp e autora de Ideologia e
Populismo e Quando a
Vítima é Mulher.
Atualmente é coordenadora do Projeto
Integrado Experiência de
Envelhecimento e as
Mudanças no Curso da
Vida, financiado pelo CNPq.
Para tratar dos significados da velhice no curso da vida pós-moderno, o autor utiliza dois filmes com representações radicalmente opostas da experiência de envelhecimento. O primeiro, Make Way for Tomorrow, produzido em 1937, apresenta o drama de um casal de velhos que, forçado a vender a sua casa e impedido de morar com os filhos, tem como alternativa aguardar a morte num asilo.
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REVISTA USP, São Paulo, n.42, p. 70-83, junho/agosto 1999
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Nesse filme, mais uma vez, a violência da lógica que organiza as práticas de desenvolvimento urbano é combinada com a tragédia dos velhos para expressar a brutalidade envolvida na concretização dos ideais da modernidade.
Cocoon, produzido nos anos 80, apresenta uma comunidade de aposentados que descobrem acidentalmente técnicas extraterrestres de rejuvenescimento e, com muito entusiasmo, passam a desafiar a decadência física e o desprezo com que seu grupo é tratado. Evocando símbolos de longevidade e imortalidade, esse filme substitui o pessimismo do primeiro, abrindo espaço para o que Moody chamará de ethos pós-moderno, que se empenha na negação dos determinismos biológicos, físicos, psicológicos e sociais.
Quase meio século separa um filme do outro, mas, de acordo com o autor, a