Maquiavel

ÉTICA^ POLÍTICA E PODER EM
MAQUIAVEL"^
João Carlos Lino Gomes
Fac. Filosofia CES—SJ (BH)
* A memória da Prof. Sônia
Viegas. Este trabalho baseia- se no cap. [Il da minha disserta(;ào de mestrado. O pensamento de Maquiavel continua a suscitar problemas para os intérpretes. Vários séculos depois da morte do pensador, uma série de questões abordadas por ele fazem parte, hoje, dos estudos que se dedicam a uma reflexão sobre o político.
Mas é necessário, antes de qualquer apropriação das teses do florentino, compreender como se articula e sobre que bases se ergue seu pensamento. Sem este esforço, corre-se o risco de partilhar das várias interpretações apaixonadas que a obra maquiaveliana suscitou. É no sentido de explicitar alguns pontos importantes desta obra que este artigo se justifica. Para tanto, usando como referência os livros O Príncipe e os Comentários sobre a primeira década de Tito Lívia (Discorsi), exporemos algumas das teses de Maquiavel e mostraremos que, longe de serem contraditórios, estes dois livros se completam.
/• Uma nova concepção da política
Maquiavel viveu durante a Renascença, em Florença, na Itália, época de rupturas e porta de entrada dos tempos modernos.
Seu pensamento distingue-se da concepção greco-medieval do político, estando centrado em novas questões. O problema do
Síntese Nova Fase. v. 20, n. 60. 1993 79 bom governo, tão caro aos gregos e medievais, não mais se apresenta ao pensador florentino, e o poder, como possibilidade da vida associada, é que se apresenta como centro de sua reflexão.
Se para Aristóteles, por exemplo, a polis antecede aos homens, e estes só se reconhecem como humanos na medida em que estão inseridos nela, Maquiavel, vivendo em uma época em que o indivíduo ganha autonomia, percebe que na ausência de um poder que institua a vida associada, os homens, enquanto átomos isolados, não a constituiriam por vontade própria'.
Vê-se, assim, que a propensão para o bem, para a construção da