Maquiavel
Publicado in IANNI, Octavio. Enigmas da modernidade-mundo. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003
Na história da política, vista como teoria e prática, há muitos “príncipes”. Sucedem-se e convivem nas mais diversas situações, épocas e regiões: na monarquia e na república, na democracia e na tirania, na guerra e na paz, na revolução e na contra-revolução. Podem ser líder, caudilho, patriarca, ditador, presidente ou dirigente, civil, militar, religioso, intelectual. Há também mulheres, ainda que, em sua maioria, tenham sido homens. Mas podem ser brancos, amarelos, negros, mestiços, ocidentais, orientais, africanos, latino-americanos. Em geral, inspiram-se em modelos teóricos ou práticos, reais ou imaginários, ocidentais, europeus ou norte-americanos. Em muitos, predomina algo de ocidentalismo, sempre mesclado com localismo, tribalismo ou nacionalismo. Todos batalham o público e o privado, a ordem e o progresso, a tradição e a modernidade, a vocação e a missão, a soberania e a hegemonia, a biografia e a história, o literal e o metafórico. Sim, o “príncipe” tem sido uma figura importante na teoria e prática da política. Sob diferentes denominações e adquirindo distintas figurações, aparece em toda a história dos tempos modernos.
O príncipe de Maquiavel, com o qual se inaugura no século XVI o pensamento político moderno, é a sua expressão mais conhecida, notável, influente e controvertida. São muitos os pensadores que dialogam aberta ou veladamente com esse “tipo ideal” ou “arquétipo” da teoria e da história. Ou então, há muitos textos de política que foram e continuam a ser lidos e discutidos tendo-o como referência. Sem esquecer que têm sido numerosos os governantes e candidatos a governantes que tomam o livro de Maquiavel como leitura ocasional ou freqüente. Provavelmente todos, pensadores e governantes, buscam esclarecer o enigma do contraponto fortuna e virtù.Buscam criar, desenvolver ou inventar a sua virtù, simultaneamente