Livro
Transcorridas longas horas em compartimento escuro, aproveitadas em meditações e preces, sem entendimentos verbais, fomos conduzidos, na noite imediata, a um edifício de grandes e curiosas proporções. O esquisito palácio guardava a forma de enorme hexágono, alongando-se para cima em torres pardacentas, e reunia muitos salões consagrados a estranhos serviços. fluminado externa e interior-mente pela claridade de volumosos tocheiros, apresentava o aspecto desagradável de uma casa incendiada. Sob a custódia de quatro guardas da residência de Gregório, que nos comunicaram a necessi• dade de exame antes de qualquer contacto direto com o aludido sacerdote, penetramos o recinto de largas dimensões, no qual se congregavam algumas dezenas de entidades em deploráveis condições. Moços e velhos, homens e mulheres, aí se misturavam em relativo silêncio. Alguns gemiam e choravam. Reparei que a multidão se constituía, em sua quase totalidade, de almas doentes. Muitos padeciam desequilíbrios mentais visíveis. Observei-lhes, impressionado, o aspecto enfermiço. O perispírito de todos os que aí se enclausuravam, pacientes e expectadores, mostrava a mesma opacidade do corpo físico. Os estigmas da velhice, da moléstia e do desencanto, que perseguem a experiência humana, ali triunfavam, perfeitos... O medo controlava os mais desesperados, porque o silêncio caía, abafante, embora a inquietação que transparecia de todos os rostos. Alguns servidores da casa, em trajes caracteristicos, separavam, por grupos vários, as pessoas desencarnadas que entrariam, naquele momento, em seleção para julgamento oportuno. Discretamente, o Instrutor elucidou-nos: — Presenciamos uma cerimônia semanal dos juizes implacáveis que vivem sediados aqui. A operação seletiva realiza-se com base nas irradiações de cada um. Os guardas que vemos em trabalho de escolha, compondo grupos diversos, são técnicos especializados na identificação de males numerosos, através das cores que caracterizam o