Livro Mary Del Priori
Quando o Brasil era a Terra de Santa Cruz, as mulheres tinham de se enfear e os homens precisavam dormir de lado, nunca de costas, porque a concentração de calor na região lombar excitava os órgãos sexuais. E nos momentos a sós - geralmente no meio do mato, e não em casa, porque chave era artigo de luxo e não era possível fechar as portas aos olhares e ouvidos curiosos -, as mulheres levantavam as saias e os homens abaixavam as calças e ceroulas. Tirar a roupa era proibido. E beijar na boca? Bem... Sem pasta e escova de dente, difícil.
Mas como o proibido aguça mais a vontade, a instituição que mais repreendia os afoitos, ironicamente, acabou se tornando o templo da perdição. Onde as pessoas poderiam se encontrar trocar risos e galanteios e até ter relações sexuais, sem despertar suspeitas, se não no escurinho... Das igrejas?
De tabu a assunto despojado entre a imprensa e as rodinhas sociais, o sexo é mostrado no livro como um assunto que obteve seus merecidos avanços e diferenças de abordagem, o que não lhe tirou o caráter polêmico, apesar disso. Polêmica, aliás, que não precisamos de artigo científico algum para comprovar que mesmo em 2013 ainda existe certa resistência em se falar de - e em se fazer - sexo.
Promovendo um contraponto bastante interessante entre a mulher do século XVIII, vista como um ser pecaminoso à sociedade com base naquelas ideias do paraíso, em que Adão só fora expulso do paraíso por causa da lascívia e opulência de Eva, e a mulher do século atual, donas de seus próprios corpos, quando não escravizadas pela ditadura do corpo perfeito. O pecado de Eva, naquela época, seria retratado então na dor maldita dos partos, um mal necessário para a "cicatrização" do pecado, onde, futuramente, no dia do julgamento, as mulheres nasceriam como homens, os "seres perfeitos".
As noções de intimidade foram mudando ao longo do tempo, influenciadas por questões políticas, econômicas e culturais, e passaram de um assunto a ser evitado a todo