INFANCIA E CULTURA
A concepção de infância que conhecemos e vivenciamos em nossa atual sociedade passou por muitas mudanças ao longo dos séculos, e por isso podemos dizer que essa visão de infância e do papel da criança no mundo é algo construído social e historicamente.
Quando pensamos no papel da criança nas diferentes sociedades (como por exemplo os povos Xicrin,estudados no texto de Clarice Cohn), temos a costume de fazer comparações com a nossa própria cultura, que, involuntariamente, temos como “padrão”. Porém a nossa ideia de infância não passa de uma construção histórica europeia que ocorreu juntamente com uma série de “mudanças na composição familiar, nas noções de maternidade e paternidade, e no cotidiano e na vida das crianças, inclusive por sua institucionalização pela educação escolar” (Cohn, 2005, p.20). portanto, quando falamos de cultura, não é correto relacioná-la com determinados comportamentos e conteúdos científicos considerados básicos ou clássicos por uma determinada cultura.
Apesar da enorme diferença entre culturas antigas, a partir de leitura e análises do livro “Histórias das Crianças do Brasil” de Mary Del Priori, pudemos perceber uma certa indiferença em relação à criação e educação das crianças e adolescentes. As crianças eram consideradas adultos em miniatura. Esse “desprezo” em relação à infância pode estar relacionado às altas taxas de natalidade e mortalidade, portanto a criança “perdida” era facilmente “substituída”.
Segundo Felipe Ariès (1986), a mudança dessa realidade ocorre na medida em que a burguesia ascende na sociedade europeia, a imprensa se funda e a necessidade de alfabetização se torna maior, e assim as crianças passaram a se relacionar mais entre si, deixando de lado o antigo costume de aprender a viver de forma prática, em meio aos adultos (Ariès apud Corsino). Ainda de acordo com Ariès, a criança é “separada dos adultos e mantida à distancia numa espécie de quarentena, (...) Essa quarentena