A Santa-Mãe
No Brasil do século XVII, enquanto ainda era colônia, vivia numa ambiguidade moral que recaía quase toda sobre a imagem da mulher. Por um lado, durante este período existia uma tentativa de preenchimento demográfico da colônia, o Estado de Portugal incentivava também o concubinato. Em trecho fica explícito tal desejo: “Se el-rei determina povoar esta terra, é necessário que venham mulheres órfãs e de toda a qualidade, até meretrizes, por que aqui há várias qualidades de homens; e os bons e ricos casarão com as órfãs e deste modo se evitarão pecados e aumentará a população a serviço de Deus.” (LEITE; TAVARES, 2004, p. 9). Por outro lado havia a moral católica, que condenava e tentava a todo custo moralizar uma sociedade consagrada pelo matrimônio para então perpetuar os dogmas e a ética através da transmissão dos princípios cristãos.
Diante de uma sociedade que praticava a misoginia incentivada pela igreja e somada pelas reformas posterior ao Concílio de Trento o corpo da mulher passa a ser visto como demoníaco, todo o feminino é luxurioso, é diabolicamente sensual e envolvente. Diante do maquiavelismo feminino atribuído a sua estética é entendido que o homem não pode se envolver com sua esposa, portanto a prostituição é necessária dentro desta sociedade. A igreja, no entanto, vai de encontro com este pensamento e repudia toda e qualquer mulher que não vive sobre os laços institucionais do matrimônio como concubinas, mulheres solteiras, mulheres que não se casaram na igreja, adúlteras, entre outras que não se punham sob os parâmetros católicos.
Dentro dos preceitos católicos era importante que a matriarca não fosse ignorante e que estivesse dentro dos dogmas do catolicismo bem como dentro das suas limitações enquanto