Livro Familia De Criancas Abrigadas
1916 palavras
8 páginas
tem gerado um discurso que tende a homogeneizar sua realidade e a não considerar as tensões presentes nos diversos planos de suas relações. E, mais ainda, ao desconhecer suas peculiaridades, fortalecem-se as estereotipias e a noção de problema social, tão freqüentemente associadas a famílias pobres (FONSECA, 2002). Nesse sentido, considera-se como urgente e necessário desenvolver trabalhos e estudos que se contraponham ao discurso social que ao longo de muitas décadas o Poder Público e a sociedade incorporaram e disseminaram, quanto a uma suposta incapacidade da família em educar e proteger os seus filhos e filhas. As representações negativas sobre as famílias cujos filhos e filhas formavam a “clientela” da assistência social foram parte estratégica das políticas de atendimento à infância no Brasil até muito recentemente. A concepção do que se considerava como “disfunção familiar” e “famílias desestruturadas”, por exemplo, era justificada pela “indiferença” e pela “insensibilidade” de mães que buscavam, por meio da assistência social, a colocação dos seus filhos e filhas em instituições corretivas/educacionais fechadas, sob a tutela do Estado. A desqualificação das famílias pobres, tratadas como incapazes, ofereceu sustentação ideológica às práticas sociais. Assim, modificar o lugar das famílias nas políticas públicas e intervenções tem-se constituído um desafio. É preciso, portanto, conhecer, perfilar, distinguir, para dar voz às famílias que têm crianças abrigadas e, com isso, desfazer a aparente homogeneidade que recobre as representações sobre suas vidas e que tende a gerar discursos e ações aprisionadores de seus recursos, de suas possibilidades e de suas competências. A partir dessa perspectiva, a pesquisa, cujos resultados são aqui apresentados, teve como sujeitos famílias que possuem crianças e/ou adolescentes vivendo em abrigos no município de São Paulo, e com as quais mantêm contato. Ao incluir o ponto de vista da família, pretende-se contribuir no