LIVRO Caminhos Da Escultura Moderna Rosalind E
UMA NOVA SINTAXE PARA
A ESCULTURA
Em 1969, um jovem escultor chamado Richard
Serra realizou Mão agarrando chumbo (fig . 179), um filme de três minutos, repetitivo, austero e quase sem enredo. Estendendo-se da direita da tela até ocupar quase todo o campo visual vêem-se uma mão e um antebraço que se encarregam da totalidade da ação, que consiste nas tentativas de Serra agarrar uma sucessão de tiras metálicas que caem pelo espaço da imagem. O ritmo pulsante entre mão aberta e punho cerrado, à medida que Se.r ra busca deter os objetos em queda, é a única pontuação da seqüência espaçotemporal do filme. Por vezes sua mão erra o alvo e o chumbo passa rapidamente por ela. Por vezes a mão consegue agarrar, detendo a tira por um instante, antes de tomar a abri-la a fim de permitir que o chumbo continue caindo. O filme é inteiramente composto dessas tentativas bem-sucedidas e frustradas de agarrar - bem como do sentido da intensa concentração da mão, visualmente desprovida de um corpo, em sua ação. Um 'dos aspectos surpreendentes desse filme é ua incansável persistência - realizar uma determinada tarefa repetidas vezes, sem considerar o "suce o.. um
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clímax particular qualquer; simplesmente acrescentar uma ação específica à seguinte, tal como um náutilo vai acrescentando câmaras à sua concha. Ao considerar a repetição uma forma de compor, uma demonstração de quase absurda tenacidade, o filme de Serra se inscreve em uma tradição da escultura que se desenvolvera nos sete ou oito anos que antecederam sua realização. E não apenas o seu filme, como também algumas esculturas que produziu naquele ano igualmente: trabalhos como Peça moldada (fig. 180), produzida arremessando chumbo derretido no ângulo formado entre o piso e a parede, arrancando a forma endurecida e colocando-a no centro da sala, depois repetindo o gesto, formando, dessa forma, uma sucessão de tiras de chumbo, seqüenciais e muito parecidas, como as