Literatura- vidas secas
Fabiano é uma pessoa que se ligou de maneira visceral ao meio. Ele se orgulha de sobreviver à seca e de fazer parte de uma paisagem que só admite os mais resistentes: ora exalta-se com secreta satisfação: ”Fabiano, você é um homem”; ora, se reconhece como a um animal: “Você é um bicho, Fabiano”, e o orgulho logo passa para a dúvida - quando pensa ser uma coisa da fazenda, um traste que possui apenas as perneiras, o gibão, o guarda-peito e o sapato de couro cru que, ao ser demitido, seria do vaqueiro que o substituísse.
Vaqueiro, rude, curto das idéias, sem instrução e sem capacidade de entendimento, Fabiano não tem planos e vive a procura de trabalho. Bebe muito e perde dinheiro no jogo. Sua auto-imagem varia de acordo com a situação e seu ânimo diante da dificuldade: quando se reconhece um homem e sente orgulho, Fabiano é a afirmação do indivíduo que se sobrepõe às dificuldades. Quando se reconhece um animal, ganha relevância o ser impessoal de existência desumana. Ao avistar Baleia – num momento de comunhão, envolvido na tragédia de pertencer à mesma realidade do animal, Fabiano conclui: “Você é um bicho, Baleia”.
Fabiano tenta, mas não consegue se comunicar. Como os animais, a família de Fabiano praticamente não tinha linguagem. Contando apenas com o instinto de sobrevivência, ele – um cabra vermelho, curtido pelo sol, é vencido por um soldado raquítico que desafia-o para uma partida de baralho. Humilhado, Fabiano chega a ser preso e não consegue se defender: a fragilidade de linguagem impede a possibilidade de divulgar a injustiça que sofrera e ele lamenta viver como um bicho, sem ter freqüentado a escola.
Sinhá Vitória[editar]
Sinhá Vitória, mulher de Fabiano, vive sua sina, sempre atenta aos sinais, estremece lembrando-se da seca, mas logo afasta a recordação, temendo que ela se realize, e reza baixinho. Esperta, sabe fazer conta, previne o marido sobre os trapaceiros e enganadores. Tem consciência da condição em que vivem, mas também