Linguagem politicamente correta
CUIABÁ
EdUFMT
V. 12
N. 2
p. 47-72
2006
ISSN 0104-687X
A LINGUAGEM POLITICAMENTE CORRETA NO BRASIL: UMA LÍNGUA DE MADEIRA1?
Sírio Possenti* Roberto Leiser Baronas**
- Flecha, você é machista? Pergunta Shirlei. - Para mim não existe diferença entre sexos, Shirlei. - Que pergunta! - Aliás, típica. Comenta Flecha. Luis Fernando Veríssimo, In: As Cobras
RESUMO: Este trabalho se situa no encontro de três pesquisas em curso: uma sobre o humor (que é muitas vezes politicamente incorreto), outra sobre algumas questões teóricas no interior da AD (em especial a questão da heterogeneidade da linguagem e a das diversas posições do sujeito) e outra sobre mudanças pragmáticas e discursivas no português brasileiro. O trabalho comenta basicamente a relevância, em especial para a Análise de
1 Michel Pêcheux (1980) toma a expressão “íngua de madeira” de empréstimo de Regis Débray, quando este ao analisar como o poder feudal se utiliza de determinadas estratégias para alargar ainda mais o “fosso entre os senhores feudais, o clero e a multidão dos laicos”, nos diz que “as necessidades da administração reestabelecem o uso da escrita. O latim é restaurado como instrumento de comunicação ‘internacional’, comum à Igreja e à chancelaria. Os reis e os príncipes serão os únicos com os clérigos, que poderão aprendê-lo. As falas vernaculares se convertem em ‘línguas vulgares’ que, abandonadas ao povo, demarcam dirigentes e dirigidos. O latim seria assim a ‘língua de madeira’ da ideologias feudal, realizando ao mesmo tempo a comunicação e a nãocomunicação”. (grifos nossos) * Sírio Possenti é professor do Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. ** Roberto Leiser Baronas é professor de Lingüística e Língua Portuguesa na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e Professor Visitante no Mestrado em Estudos de Linguagem da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
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Discurso de algumas formas lingüísticas