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Sabemos que, na Antiguidade, ocorria o sacrifício de surdos em função do ideal grego de beleza e perfeição. Ademais, o nascimento de uma pessoa narrada como "deficiente" era concebido como um castigo dos deuses, o que justificava a sua eliminação1.
Além disso, a produção da alteridade2 surda como "falta" era reforçada pela concepção filosófica de então, em que a fala era considerada o único meio de expressão do pensamento. Desse modo, a partir da significação cultural característica dessa época, os surdos são nomeados como sujeitos incompletos e, portanto, incapazes de aprender.
Apenas no século XVI, o médico italiano Girolamo Cardano (1501-1576) advoga a favor da capacidade de aprendizado dos sujeitos surdos. Entretanto, o monge beneditino Pedro Ponce de Léon (1520 – 1584) é o primeiro professor de surdos de que se tem registro histórico.
Ponce de León viveu no monastério de San Salvador, em Oña, na Espanha, onde se dedicou à instrução dos dois irmãos surdos de um conde. Esta educação caracterizava-se, portanto, pelo regime de preceptorado. Era, então, uma educação voltada para assegurar os direitos dos descendentes da nobreza (Botelho, 1998). Contemplando esse tópico, comenta Sérgio André Lulkin (2000, p.53):
Assim como a Espanha preserva a memória do Frei Pedro Ponce de León como um "mito paternal" da educação de surdos, autorizando a comunicação sinalizada e criando métodos de ensino da fala e da escrita, na França temos uma outra figura lendária que assume esse papel: o abade Charles Michel de L'Epée.
A vida dos surdos está profundamente marcada pelo mundo ouvinte, tanto no seio familiar como no