Liberdade
A UTOPIA DE SIMÃO BACAMARTE — CORTEZ
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A UTOPIA DE SIMÃO BACAMARTE *
Glauco Rodrigues Cortez **
Resumo: O trabalho faz uma leitura do conto O Alienista, de Machado de Assis, a partir de uma óptica que questiona a racionalidade científica e o seu entendimento sobre a loucura. Em um estilo ensaístico, o texto utiliza, basicamente, citações do conto que, ao ser narrado, expõe de uma forma magnífica os conflitos entre a razão e as incertezas da realidade. Palavras-chave: literatura, racionalidade, loucura, cultura, cientificismo, mitificação, conhecimento e certeza.
Abstract: This paper presents a reading of the short-story O Alienista (The Alienist), by Machado de Assis, from a standpoint that questions scientific rationality and its understanding of madness. As if it were an essay, the text basically uses quotations from the short-story, a cleaver narrative dealing with the conflicts between reason the uncertainties of reality. Key words: literature, rationality, madness, culture, scientific attitude, mythicizing, knowledge and certainty.
Nem a ciência e nem o positivismo em particular podem desejar figura mais ilustre que a do doutor Simão
Bacamarte: a beleza personificada da impavidez, da indiferença. Seus gestos sempre terminam por deixar a impetuosidade, a volúpia e todas as paixões derrotadas pelo nocaute. Um simples olhar, um sorriso infinitamente discreto, um diagnóstico; um personagem construído sobre seus próprios atos. Simão Bacamarte é um sábio, isto é, um doutor e todas as honras ser-lhe-ão devidamente concedidas antes de sua apresentação.
Simão Bacamarte é o alienista, personagem do conto homônimo de Machado de Assis, publicado pela primeira vez em 1882 no livro Papéis Avulsos. Alienista é o título que protege Bacamarte 24 horas por dia. É um viver clínico, como ele bem define: “a ciência é o meu emprego único”. E logo em seguida delimita o campo da sua pesquisa: “Itaguaí é o meu Universo”1.
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