Ler e compreender os sentidos dos textos
Os estudos quanto à origem das estratégias de negação do PB consideram duas possibilidades. Na primeira, as construções negativas decorrem de uma base crioula ou seria o resultado de mudanças naturais da língua. Segundo a hipótese crioula, a negação pré-verbal vem do português europeu (PE) e a gênese da negação dupla e pós-verbal está na influência da estrutura de línguas africanas. Em outra possibilidade, cuja hipótese está relacionada à deriva secular das línguas românicas, as formas negativas inovadoras não são construções exclusivas do PB, visto que estudos diacrônicos revelam o uso da dupla negação em textos do PE do século XVI. Assim, esta “inovação linguística” já estaria prefigurada no PE e o que houve foi que o PB vernacular teria avançado, por meio do uso frequente, neste estágio anterior do sistema de negação do português que veio da Europa. (cf. NARO & SCHERRE, 1993 apud FURTADO DA CUNHA, 2001a). Nas variedades faladas do português brasileiro (PB), há três estratégias distintas para se negar:
a) negação pré-verbal não + V
(1) Eu não discordo dele.
b) dupla negação não + V + não
(2) Eu mehmo... lá em casa, a gente não cria não, já criemo, mas paremo de criar, mas sempre o pessoal aqui cria.
c) negação pós-verbal V + não
(3) Casei não, vivo junto, né?
Há outro exemplo; no poema “Tabacaria” cujo autor é ninguém menos que Fernando Pessoa, um exemplo de expressão que representa o ponto chave da discussão que ora nos propomos a levantar.
Observe:
TABACARIA
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada”.
Trata-se de uma ocorrência muito comum no nosso dia a dia. Os usuários da língua, no entanto, pensando logicamente, sempre se sentem questionados: quando o poeta afirma “não ser nada”, significa que ele é alguma coisa? Essa mesma lógica poderia ser aplicada a exemplos cotidianos, tais como:
1. “eu não vi ninguém” (significaria “eu vi alguém”),
2.“eu não quero nada”