LAPLANTINE Cap 2
Cap´ıtulo 2
O S´ eculo XVIII: a inven¸ c˜ ao do conceito de homem
Se durante o Renascimento esbo¸cou-se, com a explora¸ca˜o geogr´afica de continentes desconhecidos, a primeira interroga¸ca˜o sobre a existˆencia m´ ultipla do homem, essa interroga¸c˜ao fechou-se muito rapidamente no s´eculo seguinte, no qual a evidˆencia do cogito, fundador da ordem do pensamento cl´assico, exclui da raz˜ao o louco, a crian¸ca, o selvagem, enquanto figuras da anormalidade.
Ser´a preciso esperar o s´eculo XVIII para que se constitua o projeto de fundar uma ciˆencia do homem, isto ´e, de um saber n˜ao mais exclusivamente especulaivo, e sim positivo sobre o homem. Enquanto encontramos no s´eculo
XVI elementos que permitem compreender a pr´e-hist´oria da antropologia, enquanto o s´eculo XVII (cujos discursos n˜ao nos s˜ao mais diretamente acess´ıveis hoje) interrompe nitidamente essa evolu¸ca˜o, apenas no s´eculo XVIII ´e que entramos verdadeiramente, como mostrou Michel Foucault (1966), na modernidade. Apenas nessa ´epoca, e n˜ao antes, ´e que se pode apreender as condi¸co˜es hist´oricas, culturais e epistemol´ogicas de possibilidade daquilo que vai se tornar a antropologia.
”Antes do final do s´eculo XVIII”, escreve Fou-cauilt, ”o homem n˜ao existia.
Como tamb´em o poder du vida, a fecundidade do trabalho ou a densidade
´ uma criatura muito recente que o demiurgo do sahist´orica da linguagem. E ber fabricou com suas pr´oprias m˜aos, h´a menos de duzentos anos (...) Uma coisa em todo caso ´e certa, o homem n˜ao ´e o mais antigo problema, nem o mais constante que tenha sido colocado ao saber humano. O homem ´e uma inven¸c˜ao e a arqueologia de nosso pensamento mostra o quanto ´e recente.
E”, acrescenta Foucault no final de As Palavras e as Coisas, ”qu˜ao pr´oximo
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CAP´ITULO 2. O SECULO
XVIII:
talvez seja o seu fim”.
O projeto antropol´ogico (e n˜ao a realiza¸ca˜o da antropologia como a entendemos hoje) sup˜oe:
1) a constru¸ca˜o