LAPLANTINE Cap 3
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2) O discurso antropológico do século XVIII é inseparável do discurso histórico desse período, isto é, de. sua concepção de uma história natural, liberada da teolog1a e animando a marcha das sociedades no caminho de um progresso universal. Restará um passo considerável a ser dado para que a antropologia se emancipe deste pensamento e conquiste finalmente sua autonomia. Paradoxalmente, esse passo será dado no século XIX (em especial com Morga~) a partir de urna abordagem igualmente e até, talvez, ma1s marcadamente historicista: o evolucionismo. E o qae veremos a seguir.
LAPLANTINE, François. Aprender antropologia.
3. O TEMPO DOS PIONEIROS: os pesquisadores-eruditos do século X IX
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O século XV I descobre e explora espaços até então desconhecidos e tem um discurso selvagem sobre os habitantes que povoam esses espaços. Após um parêntese no século
XVII , esse discurso se organiza no século XVIII: ele é
" iluminado" à luz dos filósofos, e a viagem se torna "viagem filosófica". Mas a primeira - a grande - tentativa de unificação, isto é, de instauração de redes entre esses espaços, e de reconstituição de temporalidades é incontestavelmente obra do século XIX. Esse século XIX, hoje tão desacreditado, realiza o que antes eram apenas empreendimentos programáticos. Dessa vez, é a época durante a qual se constitui verdadeiramente a antropologia enquanto disciplina autônoma: a ciência das sociedades primitivas em todas' as suas dimensões (biológica, técnica, econômica, política, religiosa, lingüística, psicológica ...) enquanto que, notamo-lo, em se tratando da nossa sociedade, essas perspectivas estão se tornando individualmente disciplinas particulares cada vez mais especializadas.
Com a ·revolução industrial inglesa e a revolução política francesa , percebe-se que a sociedade mudou e nunca
O TEMPO DOS PIONEIROS
mais voltará a ser o que era. A Europa se vê confrontada a uma conjuntura inédita. Seus modos de vida, sua~ relações sociais sofrein uma