Kaspar Hauser e o conhecimento
No filme “O enigma de Kaspar Hauser”, Kaspar Hauser ficou preso durante aproximadamente 18 anos, sem qualquer tipo de contato do meio social e de ter aprendido a andar e falar, se tornando um exemplo de homem primitivo, quando Kaspar é abandonado no centro de uma pequena vila chamada Nuremberg, na Alemanha, é alvo dos olhares da sociedade local.
Um professor distinto da pequena vila decidiu acolher Kaspar e ensiná-lo algumas atividades, falar, tocar piano, ler, etc. O filme trata de várias questões filosóficas, entre elas a discussão entre o racionalismo (esta doutrina filosófica afirma que o conhecimento humano tem a sua origem na razão) e o empirismo (adotam as ciências experimentais como modelo de conhecimento), não seria Kaspar o bom selvagem? Várias questões entram em pauta no filme, sem descartar as partes de humor com as ideias lógicas de Kaspar Hauser, como por exemplo, quando ele vê uma torre e diz que quem a construiu deve ser muito grande, seu medo por galinhas ou acreditar que a maçã tinha vida por rolar pelo chão.
Quando um grupo de sacerdotes pergunta sobre a experiência do divino para Kaspar Hauser este diz que não possuía a consciência desse divino, nunca sentiu algo sobre Deus, ou seja, a ideia de Deus também é um fato social, o filme pode ser entendido como uma tese sobre o empirismo, de que o conhecimento passa através da experiência com o mundo, e a subjetividade, o “Eu”, são produtos do meio em que o homem vive.
O caso de Kaspar Hauser serve para ilustrar o erro básico de uma organização social fundada sobre os princípios do racionalismo positivista. Mostra-nos que a humanização do homem, entendida como socialização, não é uma decorrência biológica da espécie, mas conseqüência de um longo processo de aprendizado com o grupo social.