Juliana
REGULAR E DISCIPLINAR: ANÁLISE DE DISPOSITIVOS DISCIPLINADORES
DA EDUCAÇÃO ESCOLAR NA CORTE IMPERIAL
Rosemaria J. V. Silva UERJ/CNPQ/NEPHE
3. Cultura e práticas escolares
A falta de disciplina é um mal pior que a falta de cultura, pois esta pode ser remediada mais tarde, ao passo que não se pode abolir o estado selvagem e corrigir um defeito de disciplina.
“Enviam-se em primeiro lugar as crianças para a escola não com a intenção de que elas lá aprendam algo, mas com o fim de que elas se habituem a permanecerem tranqüilamente sentadas e a observar pontualmente o que se lhes ordena”.
KANT (1996)
Nada parece mais antigo e ligado a um passado imemorial e remoto do que a escola e algumas práticas que a cercam. Costumamos concebe-la como algo natural, unânime em sua importância e, que sempre foi o melhor lugar para educar a infância. Contudo, o lugar social privilegiado que esta instituição possui hoje, foi forjado através dos tempos, se enquadrando num processo de mudança, num devir continuo, numa história/percurso e numa construção de vários atores, entre os quais podemos citar o Estado.
Este processo que pode ser caracterizado como uma ação continua, desenvolvendo-se em direção a um resultado, implicando conceitos de tempo e mudança afirmou lentamente a centralidade do papel da instituição escolar na formação de novas gerações. O que permite inferir a escola o status de “tradição inventada” HOBSBAWM (1987), uma vez que, há poucos séculos esta não tinha um lugar social de destaque, cuja legitimidade fosse incontestável. Foi sendo edificada através dos tempos, de acordo com interesses e propósitos determinados pelo espaço e pelo tempo ao qual estava inserida, realizada sob diversos olhares e com diferentes intenções e, que ao torna-se o locus privilegiado da educação dos sujeitos, também consagrou - se como lugar de disciplinarização, coerção e controle físico, psíquico e social. Instituindo-se como distinta modeladora de comportamentos.