John Locke e o problema da realidade exterior
Outra dúvida indicada na “web conferência” do dia 15/02/2014 é a que se refere ao problema do conhecimento da realidade exterior em Locke.
Como afirma Dutra (2008, p. 85), a solução apresentada por Locke assemelha-se à de Descartes. Isto significa que, a fim de solucionar o problema do solipsismo, ambos terminam se apoiando em algo alheio ao sujeito. Este “algo alheio” é Deus... Mas, como chegar a ele pela via proposta pelo empirismo?
Pelas próprias “operações de sua mente” (ideias de reflexão), o homem pode saber que existe um ser mais poderoso que ele e que é eterno. É Ele o responsável, por exemplo, pela matemática a que homem tem acesso. Deste modo, e apresentando outros argumentos (Cf. Capítulos X e XI, do Livro IV, do Ensaio acerca do entendimento humano), Locke explica que o conhecimento de Deus decorre de nossa própria razão, isto é, das operações de nossa mente que é capaz de perceber a existência de um Ser eterno, misericordioso, onisciente, poderoso, etc. Assim, no que se refere à realidade exterior, é Deus quem confere, ao final, a certeza da crença. É o que se pode notar no texto abaixo, transcrito do Ensaio acerca do entendimento humano:
“A notícia que temos através de nossos sentidos da existência das coisas externas, embora não seja totalmente tão certa como nosso conhecimento intuitivo, ou as deduções de nossa razão empregada acerca das idéias claras abstratas de nossas próprias mentes apesar disso, constitui uma certeza tal que merece o nome conhecimento. Se nós nos persuadirmos de que nossas faculdades agem e nos informam corretamente acerca da existência destes objetos que as impressionam, não pode passar por uma confiança mal fundamentada; pois penso que ninguém pode, seriamente, ser tão cético a ponto de estar incerto acerca da existência destas coisas que vê e sente. Ao menos, quem pode até aqui duvidar (não importa o que pode ter em seu próprio pensamento) jamais terá