jogo da seduçao
O JOGO DO TEXTO
É sensato pressupor que o autor, o texto e o leitor são intimamente interconectados em uma relação a ser concebida como um processo em andamento que produz algo que antes inexistia.
Essa concepção do texto está em conflito direto com a noção tradicional de representação, à medida que a mímesis envolve a referência a uma “realidade” pré-dada, que se pretende estar representada. No sentido aristotélico, a função da representação é dupla: tornar perceptíveis as formas constitutivas da natureza; completar o que a natureza deixaria incompleto. Em nenhum dos casos, a mímesis, embora de importância fundamental, não se pode restringir à mera imitação do que é, pois os processos de elucidação e de complementação exigem uma atividade performativa se as ausências aparentes hão de se transformar em presença. Desde o advento do mundo moderno, há uma tendência clara em privilegiar-se o aspecto performativo da relação autor-texto-leitor, pelo qual o pré-dado não é mais visto como um objeto de representação, mas sim como o material a partir do qual algo novo é modelado. O novo produto, entretanto, não é predeterminado pelos traços, funções e estruturas do material referido e contido no texto.
Razões históricas explicam a mudança em foco. Sistemas fechados, como o cosmos do pensamento grego ou da imagem de mundo medieval, priorizavam a representação como mímesis, por considerarem que todo o existente – mesmo que se esquivasse à percepção – deveria ser traduzida em algo tangível. Quando, no entanto, o sistema fechado é perfurado e substituído por um sistema aberto, o componente mimético da representação declina e o aspecto performativo assume o primeiro plano. O processo então não mais (105) implica vir aquém das aparências para captar um mundo inteligível, no sentido platônico,