A sedução
Introdução
Sedução na pedagogia? A expressão causa espanto. Ou melhor, escandaliza. "Como é possível imaginar que uma coisa tão perversa como essa esteja ocorrendo, na surdina, em nossas salas de aula?" Como é possível afirmar que os professores lançam mão de um procedimento tão baixo? E, no entanto, pensando bem, a sedução é algo que seduz. Passados os primeiros momentos de resistência, cada um de nós reconhece que lança mão desse recurso quando ensina . Nessa reação está expresso todo o equívoco relativo a esse conceito. A sedução deixa as pessoas sem graça porque representa, de certo modo, o engodo, o mal, a imoralidade e, evidentemente, a culpa. Mas a sedução é também uma necessidade, e até mesmo um doce prazer. Ora, admitir não poder deixar de fazer uso de alguma coisa e, ao mesmo tempo, só ver nisso corrupção, é condenar-se a deixar esse objeto num intervalo da consciência, é não agir sobre a sedução, mas deixá-la agir sobre si. O objetivo deste texto é refletir sobre esse problema controverso. A posição que adotamos aqui não é normativa: não reprovamos a sedução nem fazemos sua apologia. De uma maneira mais pragmática, constatamos a presença incontornável da sedução nas relações humanas e, por conseguinte, na pedagogia. O texto analisa o exercício desse "poder velado, latente, inconfessado e 'melhor', mais agradável para todo o mundo... que tem mesmo a ver com o prazer" .Ele tenta responder a uma pergunta que, durante muito tempo, permaneceu oculta: é possível imaginar a sedução como uma estratégia profissional na relação pedagógica? Na tentativa de encontrar uma resposta, analisamos seis imagens de grandes sedutores da literatura: Sócrates, Casanova, Dom Juan, Valmont, Johannes e Xerazade. Essa análise nos dará a possibilidade de mostrar que, se a sedução, às vezes, tem a ver com o engodo, nem tudo nela é negativo. Nesse sentido, identificaremos certas características de uma sedução positiva, propondo, desse