Jeca Tatu
Este modelo do caipira não idealizado está presente no livro Urupês, da saga criada por Lobato para os adultos. Ele revela, em um painel composto por 14 narrativas, a real situação do trabalhador campestre de São Paulo, visão nada agradável para as autoridades políticas da época e também para a classe dos intelectuais.
Isto porque Jeca é a imagem do ser legado ao abandono pelo Estado, à mercê de enfermidades típicas dos países atrasados, da miséria e do atraso econômico. Condição nada romântica e utópica, como muitos escritores pretendiam moldar o caboclo brasileiro, nesta mesma época.
A imagem de Jeca Tatu foi utilizada inclusive como instrumento em operações de esclarecimento sobre a importância do saneamento público e a urgência em erradicar doenças como o amarelão, que matava tantas pessoas nos anos 20. Como afirmava Lobato, “Jeca Tatu não é assim, ele está assim”, vitimado pelo desprezo de um governo nada preocupado com esta camada social.
Jeca era um caipira de aparência desleixada, com a barba pouco densa, calcanhares sempre desnudos, portanto rachados, pois ele detestava calçar sapatos. Miserável, detinha somente algumas plantações de pouca monta, apenas para sua sobrevivência. Perto de sua habitação havia um pequeno riacho, no qual ele podia pescar. Sem cultura, ele não cultivava de forma alguma os necessários hábitos de higiene.
Residente no Vale do Paraíba, em São Paulo, região muito arcaica, era visto pelas pessoas como preguiçoso e alcoólatra. A questão da saúde transparece no enredo quando um médico, ao cruzar o seu caminho, passa