Monteiro Lobato E A Genese Do Jeca Tatu
"O Jeca não é assim: está assim"
Jovem promotor mal remunerado, Monteiro Lobato improvisa-se de fazendeiro ao herdar terras de seu avô. Em fins de 1914, uma seca terrível assolava a região. O problema era agravado pelas queimadas; Lobato, indignado, descobre que não pode punir os incendiários, "pois eleitor da roça, naqueles tempos, em paga da fidelidade partidária, gozava do direito de queimar o mato próprio e o alheio." Escreve então uma carta de protesto ao jornal O Estado de S. Paulo. Tal era a qualidade do texto que o jornal publica-o com destaque sob o título A velha praga.
"Este funesto parasita da terra é o CABOCLO, espécie de homem baldio, seminômade, inadaptável à civilização..."
Foi pouca a repercussão do primeiro artigo, mas Lobato, apaixonado pelo tema, volta a abordá-lo em um segundo texto, Urupês, publicado a 23 de dezembro do mesmo ano, e que transforma o fazendeiro improvisado no escritor e polemista de renome nacional. Com enorme virulência, Lobato ataca o "indianismo balsâmico" de José de
Alencar, Gonçalves Dias, Fagundes Varela, agora travestido em "caboclismo". E compara o caboclo ao "sombrio urupê de pau podre a modorrar silencioso no recesso das grotas". Surgia o Jeca Tatu, nome que se generalizou no país todo como sinônimo de caipira, homem do interior. (...)
A repercussão foi grande e atinge nível nacional quando Lobato, já bastante conhecido, decide, em 1918, reunir seus artigos num livro. Seu título, também Urupês, graças a uma sugestão do sanitarista Arthur Neiva, a quem Lobato acompanhara numa campanha de combate à malária e à ancilostomose em Iguape, interior de São Paulo.
As três primeiras edições esgotam-se rapidamente. Os jornais alimentam a polêmica. Os saudosistas se indignam: afinal, o caboclo era o "Ai-Jesus nacional". Mas vem a suprema consagração. Rui Barbosa, que jamais citara qualquer autor vivo, referese a Jeca Tatu, "símbolo de preguiça e fatalismo, de sonolência e imprevisão, de